Segurança Operacional

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Falemos de segurança hoje, um tema considerado tabu no paraquedismo. Dificilmente chega-se em consensos quando se fala sobre segurança nas operações das áreas brasileiras. Mais controverso ainda por ser tamanha a riqueza de estudos na área de aviação civil sobre o assunto, mas pouco é aplicado no nosso esporte aeronáutico.

Portanto, falemos de teoria da segurança. O documento 9859 da ICAO (Internacional Civil Aviation Organization) é uma proposta de Manual de Gerenciamento de Segurança para Aeroportos. Um dos conceitos pilares de segurança nas operações ligadas a aviação é a teoria proposta por James Reason sobre “Trajetória das Condições Latentes”.

De acordo com Reason, existem barreiras criadas pelo sistema aeronáutico, sendo que um acidente somente ocorre quando uma condição latente pré-existente encontra uma sincronicidade de ‘buracos’ nas diversas barreiras do sistema. Assim, investigar um acidente é mais do que apontar culpados e buscar falhas de equipamento. Acidentes na aviação são analisados dentro deste conceito, onde identifica-se as falhas do sistema como um todo, as quais possibilitaram a trajetória da condição latente até a efetivação do acidente.

Vejamos mais detalhadamente. A primeira barreira é a própria organização. Uma organização formal que gerencia aeroportos – a Infraero por exemplo – consegue com mais facilidade capacitar e treinar seus colaboradores, conscientizando os envolvidos na operação e adotando medidas que reforcem e fiscalizem uma atitude segura dos agentes. Agora vejamos Boituva como exemplo. Embora haja organizações formais que administrem a área, boa partes das operações é feita sem supervisão direta destes órgãos. Assim, a realidade em Boituva é uma organização basicamente informal, que opera sobre a gerência de diversas organizações menores (as escolas). As decisões sobre segurança são tomadas muitas vezes pelos paraquedistas envolvidos na operação, sejam instrutores ou atletas. E os processos operacionais são criados por esta organização informal divergente e por indivíduos muitas vezes despreparados para entender a segurança da operação. Enquanto em outros aeroportos confia-se na organização como uma barreira sólida, a nós paraquedistas cabe cada um fazer sua parte para fortalecer a primeira barreira contra-acidentes: a própria organização.

A segunda barreira são as Condições de Trabalho. Aqui enquadra-se o ambiente no qual se opera: as condições climáticas, os equipamentos disponíveis à operação, fatores ambientais, etc. Quando se vê escolas operando em condições climáticas adversas, deve haver a compreensão que esta sendo retirada uma barreira importante na trajetória de condições latentes. Equipamentos inadequados também ameaçam a segurança da operação.

A terceira barreira, geralmente uma das mais fortes é o Pessoal envolvido na operação. Esta barreira é muito importante pois o ser humano tem a capacidade de julgar e identificar falhas no processo, capturando a condição latente neste momento. Todavia, uma falha humana não pode ser apontada como causa de acidente, pois ela sozinha é apenas uma das barreiras que deveriam existir para evitar acidentes. Uma organização com processos focados em segurança dificilmente transformaria uma falha humana em um acidente.

Um ponto importante nesta barreira é que existem dois tipos de falha humana: o erro e a violação. Não há sistema humano livre de erros – o erro nada mais é que um componente do sistema e deve ser gerenciado como tal. Todos estamos sucetíveis a cometer erros, e por isso a segurança aeronáutica muitas vezes baseia-se em sistemas redundantes para mitigar riscos. A violação difere-se do erro na intenção, pois o individuo sabe que pode gerar conseqüências quando toma a ação. As violações podem ser:

  • Situacionais: acontecimentos pontuais;
  • De rotina: quando o grupo tem dificuldade em seguir procedimentos estabelecidos, normatizando tarefas por questões práticas;
  • Induzidas pela organização: são uma extensão das violações de rotina, geralmente ligada a processos mal desenhados e excesso de demanda.

Por fim, a última barreira que o sistema aeronáutico possui são as Defesas. As defesas são constituídas por três pilares: Regulamentação, Treinamento e Tecnologia. Atualmente no meio do paraquedismo temos uma tecnologia muito bem desenvolvida. Mas nos carece treinamentos sobre segurança operacional, e a regulamentação poderia ser reforçada tanto no que rege o esporte quanto os órgãos ligados a operação das aeronaves no lançamento de paraquedistas. Esta barreira é uma das mais fortes no setor da aviação civil, e pode servir como exemplo para as operações de nossas áreas de salto.

Assim, conscientizando os agentes envolvidos na operação do aeroporto (instrutores, atletas, alunos, passageiros, pilotos, manifesto, dobradores, abastecimento, resgate, empresários, etc) podemos fortalecer as barreiras que temos, criando um novo conceito sobre segurança para nosso querido esporte.

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